sábado, 28 de março de 2015

O coração de Corali – Eliane Ganem

No último dia 20, dia internacional do contador de histórias, estive em Brasília para os festejos e homenagens à esta, que é uma das artes mais antigas da humanidade e tive o prazer de ouvir Celso Sisto contar essa história e criar uma vontade tremenda nos ouvintes em conhecê-la, como já sabemos, contar histórias é também uma grande difusão de escolhas leitoras...
Pra quem também tem um buraco no peito, lá vai Corali, sua tia gorda e toda a família!

 
O coração de Corali é tão grande que é capaz de caber um caminhão. Mas, caminhão não é coisa reservada no coração de ninguém. Por isso, no coração de Corali tem um espaço pro pai, pra mãe, pra tia gorda, pra avó Joana, pro avô Pedro e pro Sapoti, um cachorro peludo, vira-lata, do mais puro sangue que o pai de Corali conseguiu. Mas, mesmo com esse mundo de gente dentro do coração, ainda sobrava espaço. E o espaço, Corali não sabia porque, tinha mais é cara de buraco. Um buraco vazio no fundo do peito. Corali sentia que faltava alguma coisa.
Um dia teve até reunião de família para discutir o coração de Corali. Isso porque a coisa já estava virando um problema sério. Corali ficava, às vezes, parada, triste, pensando um jeito de tapar o buraco vazio, que impedia até de brincar com o pessoal da rua e da escola. A professora notou, falou pra mãe, a mãe falou pro pai, e o pai se encarregou de espalhar pro resto da família.
Na tal reunião apareceu todo mundo.
Um dizia uma coisa, outro dizia outra e ninguém chegava a lugar nenhum.  O pai dizia que era falta de um amigo o que Corali sentia, a mãe achava era que falta de brincadeira com os colegas na escola, a avó dizia que era falta de um irmão pra brincar todo dia, o avô dizia que era mania de menina que tem tudo em casa e, na verdade, não sentia falta de nada. Só a tia gorda não dizia. Ficava olhando Corali com um olhar compriiiiido, como se dissesse “tanta confusão por causa de um buraco vazio no peito”. Até o Sapoti, se soubesse falar, tinha metido o focinho na história.
E ficaram nessa discussão mais de duas horas. Corali já estava cansada, com vontade de dizer que não tinha importância.
Um dia, quem sabe, alguém tapava o buraco com cimento depois pintava de vermelho, a cor que Corali mais gostava, que nem o avô fazia na obra onde trabalhava quando era mais moço. Mas, ninguém deixava ela falar. Gente grande, às vezes, acha que gente pequena não tem opinião. Queriam resolver a todo custo o problema. E acabaram não resolvendo nada. Só fizeram com ela o que cada um achava.... e por ai vai... bora conhecer o livro?

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