segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

Poesia Celta



"Que haja sempre um trabalho para que suas mãos façam
Que sua bolsa sempre contenha uma moeda ou duas
Que o sol sempre brilhe pelo vidro da sua janela
Que a mão de um amigo esteja sempre perto de ti
Que os deuses encham teu coração com alegria para animar-te"."

"Que tenha uma parede para guardar-te do vento
Um teto para proteger da chuva
Bebida ao lado da lareira e o riso para animar-te
Que aqueles que ama sempre estejam próximos
Que alcance tudo o que seu coração desejar."

"Que o caminho seja brando sob os teus pés,
O vento sopre leve em teus ombros
Que o sol brilhe cálido sobre tua face,
As chuvas caiam serenas em teus campos
E até que eu de novo te veja,
Que os deuses te guardem nas palmas de suas mãos."

"Que estradas apareçam indicando o destino
Que o vento sempre impulsione seus passos
Que o sol brilhe sempre em suas aspirações
Que a chuva se precipite, gentilmente, sobre sua lavoura
E, até que nos encontremos novamente,
Possa você estar amparado pelas mãos dos deuses!"

"Que os deuses o protejam,
E, o abençoem
E que os problemas o ignorem,
Em cada passo do seu caminho."

"Que seus bolsos estejam plenos
Bem como seu coração, leve
Que a boa sorte o persiga sempre
Em cada manhã e a cada pôr-do-sol!"



segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

O mundo além das palavras - Jalal ud-Din Rumi

Descobri este poema por acaso neste belíssimo vídeo com Letícia Sabatella e Marcus Viana. O autor, Rumi, foi um sufi (corrente mística do islamismo) e viveu no século XIII, na Turquia e, com leveza e sabedoria nos diz: "para mudar a paisagem, basta mudar o que sentes".
Que estamos sentindo hoje, aqui e agora? Que paisagens nos compõem? Que outro mundo será esse? Exite? Qual é o mundo dos sonhos? Qual é o mundo dos devaneios, da imaginação, da poesia, das histórias, das palavras que entram e que saem, de Deus ... do paraíso, de todas essas paragens?
Fique a vontade para compartilhar comigo quais são as palavras que te habitam e se quiser, busque o livro: POEMAS MÍSTICOS - JALAH ud-Din Rumi - Editora Attar.




O mundo além das palavras 

Dentro deste mundo há outro mundo 
impermeável às palavras. 
Nele, nem a vida teme a morte, 
nem a primavera dá lugar ao outono. 
Histórias e lendas surgem dos tetos e paredes, 
até mesmo as rochas e árvores exalam poesia. 
Aqui, a coruja transforma-se em pavão, 
o lobo, em belo pastor. 
Para mudar a paisagem, 
basta mudar o que sentes; 
E se queres passear por esses lugares, 
basta expressar o desejo. 
Fixa o olhar no deserto de espinhos. 
– Já é agora um jardim florido! 
Vês aquele bloco de pedra no chão? 
– Já se move e dele surge a mina de rubis! 
Lava tuas mãos e teu rosto 
nas águas deste lugar, 
que aqui te preparam um fausto banquete. 
Aqui, todo o ser gera um anjo; 
e quando me veem subindo aos céus 
os cadáveres retornam à vida. 
Decerto vistes as árvores crescendo da terra, 
mas quem há de ter visto o nascimento do Paraíso? 
Viste também as águas dos mares e dos rios, 
mas quem há de ter visto nascer 
de uma única gota d’água 
uma centúria de guerreiros? 
Quem haveria de imaginar essa morada, 
esse céu, esse jardim do paraíso? 
Tu, que lês este poema, traduze-o. 
Diz a todos o que aprendeste 
sobre este lugar. 

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

E viva Yemanjá - Iemanjá - Yemonjá!!!


A Senhora dos Oceanos.

Trabalha em favor do amor, da família e a educação das crianças, além da maternidade.
Conta o mito da criação, que dos seios fartos de Iemanjá, brotaram os oceanos e com ele os orixás seus filhos: Exú, Ogum, Oxossi, Xangô e Oxum.
Yemonjá, grande orixá das águas, era filha de Olokun, o senhor dos oceanos.
Era possuidora de um grande instinto maternal, que fez dela mãe de dez filhos.
Embora casada, não tinha grande apego por seu marido. Às vezes, pensava em deixá-lo, mas ele era um homem muito importante e poderoso, e não permitiria tal desonra. Yemonjá também pensava no bem-estar de seus filhos, não podendo deixá-los desamparados.
Seu marido usava o poder com tirania, inclusive com sua família, tornando a vida dela insuportável. Ela não agüentava mais se submeter aos caprichos de um homem que ela desprezava.
Ela procurou seu pai para aconselhar-se sobre a atitude que deveria tomar. No fundo, ela já estava decidida a fugir, mas precisava de seu apoio. Olokun não a recriminou, pois ela era uma soberana e, como tal, não poderia aceitar o jugo de ninguém. Ele, então, deu à sua filha uma cabaça com encantamentos, para que ela usasse quando estivesse em perigo.
Yemonjá colocou seu plano em prática, fugindo com todos os seus filhos.
Quando ela já estava bem longe de sua aldeia, viu que estava sendo perseguida pelo exército de seu marido. Pensou em enfrentá-los, mas eles eram muitos e seria uma luta desleal. Yemonjá odeia os confrontos, pela destruição que causam, já que é um orixá propagador de vida.
Quando se sentiu acuada, resolveu abrir a cabaça e pedir socorro ao seu pai. Do seu interior escoou um líquido escuro, que, ao tocar o chão, imediatamente formou um rio, que corria em direção ao oceano.
Foi nessas águas que Yemonjá e seu povo encontraram um caminho para a liberdade.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

O rio corre para todos - conto da tradição judaica






Isaac era um próspero comerciante, dono de um bem sortido armazém na cidade de Kabul.
Um dia, viu com espanto e desagrado que outro armazém ia ser inaugurado no mesmo bairro.
Naquela noite, Isaac não dormiu, incomodado pelos mais sombrios pressentimentos a respeito do novo concorrente. Inseguro quanto ao futuro, na manhã seguinte foi procurar um rabino, a quem confessou seus temores.
- Você não tem com o que se preocupar. Eu vou lhe contar uma coisa: você já viu o cavalo que vai beber água no rio?
- Sim, por quê?
- Já reparou em como ele às vezes relincha e bate os cascos, escavando a terra à beira da água?
- Deve ser porque está louco para beber água.
- Não. É porque vê na água cristalina a sua imagem. Pensando tratar-se de um outro cavalo que vai beber sua água, tenta espantá-lo e, com isso, enlameia a água, antes límpida. Ele não sabe que o seu inimigo é ele mesmo e que, mesmo que houvesse outro cavalo, a água do rio seria suficiente para todos.
Se soubesse disso, estaria mais confiante e beberia uma água mais pura.

E completou:

- Assim, volte para casa sossegado, meu bom Isaac. Não permita que seu próprio medo estrague seus negócios. Lembre-se de que a prosperidade é como um rio inesgotável, que jorra para todos os que têm sede.


O homem que contava histórias 
Rosane Pamplona e Sônia Magalhães


segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Contar é a arte da relação - Cristina Taquelím - Palavras Andarilhas

Cristina Taquelim dedica a sua actividade profissional à promoção da leitura e à arte de contar. Co-organizadora do conhecido encontro internacional «Palavras Andarilhas» – que este ano o Município de Beja e a sua Biblioteca promoverão, uma vez mais, entre os dias 25 e 28 de Agosto –, é também autora de livros para a infância. Tudo boas razões para uma conversa.



Continua a dar-se, quase por inteiro, à promoção da leitura no concelho de Beja, como uma espécie de braço-armado-de-livros da Biblioteca, que percorre escolas, instituições, lugares diversos. Ultimamente o seu trabalho alarga-se aos mais idosos. É possível pô-los a ler, ou pelo menos a manterem-se activos e a viverem num ambiente de literacia? Qual é o seu propósito principal, nesse âmbito?
A minha vida profissional está profundamente marcada pelo trabalho que desenvolvo desde 1988, no concelho de Beja, enquanto técnica da Divisão de Bibliotecas e Museus do Município.
Tive o privilégio de integrar desde a primeira hora a equipa do Figueira Mestre e contribuir para a estratégia que desde sempre norteou o nosso trabalho: «Uma biblioteca ao serviço do leitor». A promoção da leitura sempre foi a minha área de intervenção, dentro da organização, procurando caminhos e sentidos, coordenando uma pequena equipa que se foi qualificando para cumprir aquele que creio ser o grande desígnio das bibliotecas: «Criar e alimentar comunidades» (não é minha a frase, mas sei que a ouvi algures).
Em 2009, o Município lançou um novo programa de Leitura em Meio Rural que permitiu melhorar a resposta às comunidades rurais e integrar alguns projectos junto de novos públicos. Ampliando trabalho junto de grupos em situação de isolamento e exclusão social, apostando numa intervenção regular e continuada. É esse o contexto do projecto «Conversas Andarilhas» que desde 2009 se desenvolve junto de grupos de idosos e que ganha novo fôlego, a partir de 2012, graças a um projecto apoiado pela Fundação Calouste Gulbenkian.
Esta linha de trabalho desenvolve-se na base de encontros regulares com grupos de idosos, em que se conversa em torno de livros, contos, mas sobretudo histórias de vida. São momentos importantes de quebra de isolamento, de estimulação cognitiva, de valorização da memória e identidade destes homens e mulheres. Tentamos trabalhar cruzando o oral e o impresso, os textos da cultura popular com os da esfera literária, as memórias do vivido com as memórias do ficcionado. As competências leitoras de cada grupo, o seu grau de autonomia, a história de cada um dos seus elementos são os pontos de partida. A eles junta-se a capacidade relacional de cada dinamizador. Estamos a falar de um trabalho de relação que assume uma natureza ora mais performativa, ora mais participada, mas sempre centrado na palavra, na imagem, no livro. Temos quem leia romances, quem prefira o Almeida Garrett ao Mário de Carvalho, quem leia almanaques, bíblias, páginas de poesia dos jornais locais, quem só goste de biografias e também quem não leia nada e apenas venha para estar à conversa.
Conversamos muito sobre o que sabemos, pensamos e sentimos e ficamos surpreendidos com a maneira como os escritores falam do mundo: como o Manuel da Fonseca contou, em Seara de Vento, a história do Cantinho da Ribeira, como a Isabel Minhós Martins fala do Alqueva no livro O que vês dessa janela, como o António Mota fala desses Outros Tempos ou dos dramas de A Casa das Bengalas. Partilham-se memórias em torno de romances, adivinhas, adágios, trava-línguas escutados na infância. Identificamo-nos com as descrições de Eduardo Olímpio sobre os bailes e funções na serra. Lemos poemas e conversamos sobre as letras de fados e canções. Há quem só venha cantar. Há quem apenas siga a sessão com os olhos por incapacidade motora de comunicar. Cantamos muito para espantar tristezas e medos.
A Biblioteca de Beja, com todo o seu savoir faire, Cristina, prepara-se para, uma vez mais, pôr de pé o encontro «Palavras Andarilhas» – que se tornou uma espécie de imagem da marca da cidade e o principal pólo português da arte de contar e ouvir contar. Quer partilhar connosco algumas notícias frescas?
Um savoir faire, como sabem, feito de muitas cumplicidades e da permanente procura de sentido para este projecto. Ele reflecte o trabalho da biblioteca e sinaliza o caminho para os anos seguintes. Contar e ouvir contar constitui o centro das Andarilhas, mas elas sublinham a importância do trabalho com a palavra nas suas múltiplas dimensões, oferecendo-se como um espaço de aprendizagem e troca de experiências de muitos mediadores de leitura que trabalham nas redes de leitura portuguesas. Do programa deste ano, que se desenvolve entre 25 e 28 de Agosto, destacaria, como temas de fundo, as questões do maravilhoso na tradição oral, a mediação da leitura na infância e juventude, sublinhando alguns géneros menos discutidos e que parecem constituir-se como boas ferramentas para os mediadores: poesia e micro-ficção. As conferências, tertúlias e oficinas cruzam-se com um novo projecto, Festival de Contos do Mundo, que contará com a presença de um bom painel de narradores nacionais e estrangeiros. O Jardim Público será nestes dias o coração da cidade dos contos, mas a oferta de actividades expande-se pelo centro histórico da cidade e freguesias rurais.

Qual continua a ser para si o principal sentido do contar e ouvir contar?
Independentemente da idade, do contexto, das competências e saberes, contar é a arte da relação. Posta ao serviço de uma estratégia de promoção de leitura, ela serve o desenvolvimento da linguagem: veja-se o papel das adivinhas no desenvolvimento de processos de antecipação leitora, das lengalengas no desenvolvimento da consciência fonológica, dos contos cumulativos e outros, na construção de esquemas narrativos. Contar e ouvir contar constitui um espaço e um tempo de reflexão sobre as metáforas do mundo e da vida, mapeando valores, emoções e afectos. Ouvir contar apoia o desenvolvimento da escuta e da memória, sem as quais não existe aprendizagem, bem como a organização de enunciados orais, de mecanismos expressivos.
Mas contar e ouvir contar também são apenas lazer, fruição, colo e embalo.

É por causa desse mesmo sentido que passou à escrita, com livros sobretudo para os mais novos, como Malaquias (RHJ, 2007), Na minha casa somos sete (Pé de Página Editores, 2009), Uma casa na Lua (Paulinas Editora 2011), Corrupio (Editora Lê, 2013)?
Nasci numa casa de palavras e sempre escrevi muito e irregularmente, para a gaveta e mais tarde por necessidades de profissão. As minhas discretas incursões no mundo da edição surgiram por curiosidade e incentivada por aqueles que me amam. Fracos motivos para editar, como vêem. Suponho que o facto de ter uma forte relação com a oralidade e com a literatura para a infância também tenha influenciado. Em quase tudo o que publiquei está presente aquilo que eu sou, aquilo que penso, e fi-lo com verdade. Às vezes os textos são apenas brincadeiras de dizer, encontro-lhes hoje muitos defeitos e outras tantas virtudes, algumas até ao revés do cânone literário. As histórias rimadas da minha avó são uma voz de fundo de quase todos os textos. A minha história, também a leitora, fez o resto.

Corrupio, o mais recente, editado no Brasil, o que é? Diga-nos nas suas palavras.
É um pequeno álbum, ilustrado pela Elisabeth Teixeira e publicado pela editora brasileira Lê, que contou com o apoio da DGALB. Uma história sobre o desejo e onde ele nos leva. Uma metáfora sobre a descoberta da vida, sobre o amor. Está «prescrito» – ironizo – para pré-leitores, mas a leitura em voz alta apenas do texto pode oferecer uma recepção interessante junto de outros públicos. 

Em sua opinião, este mundo perigoso, socialmente injusto e desigual, em que estamos a viver, reclama o contar e o ouvir contar?
O mundo nunca foi justo e está cada vez pior! – dizia no outro dia, do alto dos seus 90 anos, uma leitora de biografias. Os contos dão-lhe razão. Veja-se os textos do património imaterial, 

Porque as crianças aprendem mais com contos de fantasia do que com histórias realistas

Artigo publicado originalmente no Aeon Ideias e traduzido pelo Portal Aprendiz via Creative Commons. Deena Skolnick Weisberg é pesquisadora sênior do departamento de psicologia da Universidade da Pensilvânia. Seus campos de pesquisa incluem o desenvolvimento de uma cognição imaginativa, o papel que a imaginação joga no aprendizado, e pensamento científico e racional em crianças e adultos.
As crianças têm muito o que aprender. Pode se dizer que este é o propósito da infância: garantir às crianças um tempo protegido para que elas possam se concentrar em aprender como se comunicar, como o mundo ao seu redor funciona, que valores sua cultura considera importante e por aí vai. Dada a quantidade massiva de informação que as crianças precisam absorver, pareceria recomendado que eles passassem o máximo possível deste tempo engajadas em estudar seriamente as questões e problemas do mundo.
Ainda assim, qualquer um que já tenha passado tempo ao redor de crianças sabe que elas dificilmente têm a aparência de acadêmicos sérios e focados. Ao invés, as crianças passam muito do seu tempo cantando canções, correndo por aí, fazendo bagunça – isto é, brincando. Para além de participarem da grande alegria de descobrir como a estrutura do real funciona através de suas brincadeiras exploratórias, as crianças (como muitos adultos) também tendem a ser profundamente atraídas por jogos e histórias irreais. Elas fingem ter superpoderes ou habilidades mágicas e imaginam interações com seres impossíveis, como sereias e dragões.
Por muito tempo, tanto pais como pesquisadores supuseram que esses “voos de fantasia” eram, na melhor das hipóteses, inofensivos episódios de diversão – talvez necessários para a descontração de quando em quando, mas sem qualquer propósito real. Na pior das hipóteses, alguns defendiam que tais momentos eram distrações perigosas da importante tarefa de entender o mundo real, ou manifestações de uma confusão pouco saudável sobre a barreira entre realidade e ficção. Mas agora, novos trabalhos no campo da ciência do desenvolvimento mostram que não apenas as crianças são plenamente capazes de separar realidade e ficção, mas também que a atração por situações fantásticas pode na verdade ser bastante útil para o aprendizado.
Trabalhos mostram que fantasia pode ser instrumental para aquisição de conhecimento.

Eu me aproximei dessa perspectiva após testar diversas maneiras de ensinar novas palavras ao vocabulário de crianças da educação infantil em programas do Head Start*, na esperança de combater o déficit de linguagem que existe entre crianças de pré-escola de contextos socio-econômicos altos e baixos. Para fazer meu estudo, minha equipe apresentou novas palavras de vocabulário ao longo de uma atividade de leitura compartilhada, e depois reforçou os significados dessas palavras em sessões de brincadeiras tuteladas por adultos.
A intervenção foi bem-sucedida, e o entendimento das crianças das novas palavras melhorou – o que foi comprovado por testes feitos antes e depois da experiência. Mas o que foi mais interessante para nós foi a diferença entre os dois grupos de crianças deste estudo: aqueles cujas histórias descreviam temas realistas, como cozinhar, e aqueles cujas histórias descreviam temas fantásticos, como dragões. No começo do estudo, publicado em 2015 na revista Cognitive Development, as crianças sabiam menos sobre as palavras dos livros fantásticos, talvez porque tais palavras eram mais desafiadoras. Mas vimos que o conhecimento lexical das crianças aumentou ao longo da intervenção e, nos pós-testes, elas sabiam tanto destas palavras quanto daquelas contidas nas histórias realísticas. Isso é, as crianças ganharam mais conhecimento das histórias fantásticas do que das realísticas.
*Head Start é um programa do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos que oferece educação, saúde e nutrição em serviços abrangentes que envolvem crianças de baixa renda e suas famílias.
Essa descoberta é surpreendente uma vez que confronta tudo que sabemos sobre aprendizado e transferência. Um grande montante da literatura na psicologia mostrou que quanto mais próximo o contexto de aprendizagem está do contexto onde a informação será usada, melhor. Isso sugere fortemente que livros realistas deveriam ajudar as crianças a aprender os significados das palavras melhor e reportá-los mais precisamente nos pós-testes. Mas nosso estudo mostrou exatamente o oposto: livros de fantasia, aqueles que eram menos próximos da realidade, permitiram que as crianças aprendessem melhor.
Livros de fantasia, aqueles que eram menos próximos da realidade, permitiram que as crianças aprendessem melhor.
Em trabalhos mais recentes, nosso laboratório vem replicando este efeito. Um estudo em andamento está descobrindo que as crianças aprendem novos fatos sobre animais melhor a partir de histórias fantásticas do que das realísticas. Outros pesquisadores, usando uma variedade de métodos e medidas, mostraram que representações de eventos aparentemente impossíveis podem ajudar as crianças a aprenderem. Por exemplo, crianças são mais preparadas para aceitar novas informações quando elas são surpreendidas – portanto, quando elas têm quebradas suas suposições sobre o mundo físico. 
O que pode estar acontecendo? Talvez as crianças são mais engajadas e atentas quando elas veem acontecimentos que desafiam seu entendimento de como o real funciona. Afinal, os acontecimentos nessas histórias fantásticas não são coisas que as crianças veem todos os dias. Então talvez elas prestem mais atenção, o que leva a mais aprendizado.
Uma possibilidade diferente – e mais rica – é que há algo sobre contextos fantásticos que é particularmente útil ao aprendizado. De tal perspectiva, a ficção fantástica pode fazer algo mais do que capturar o interesse das crianças melhor que a ficção realista. Em vez disso, a imersão em cenários onde elas precisam pensar sobre situações impossíveis podem engajar processamentos mais profundos, precisamente porque elas não podem tratar tais cenários como fariam com qualquer outra situação que encontram na realidade.
Elas precisam considerar cada evento com um olhar novo, perguntando se ele cabe no mundo da história e se ele se encaixa nas leis da realidade. Essa necessidade constante de avaliar a história pode gerar circunstâncias bastante próprias para o aprendizado.
Trabalhos futuros irão investigar todas essas possibilidades. Mas, por hora, é importante notar que nossas descobertas podem ter profundas implicações na educação. Mesmo que seja “somente” o fato de que crianças aprendem melhor em contextos fantásticos, porque tais contextos as ajudam a prestar mais atenção, nós podemos usar este fato para fazer melhores materiais didáticos que irão beneficiar todas as crianças.
(A ilustração principal deste artigo foi gentilmente cedida por Janaina Tokitaka e faz parte do livro “O Mercado dos Goblins”, de Christina Rossetti, publicado pela Companhia das Letras)

sábado, 28 de janeiro de 2017

Acontece lá no Museu da Pessoa: Narradores de vida!!!!

Inscrições abertas para o curso "Narradores de Vida"



O Museu da Pessoa oferece, a partir de 11 de fevereiro, um curso “Narradores de vida”. A ideia é trabalhar 
com temas da estética da cena contemporânea por meio da figura do contador de histórias, apresentando 
elementos para a criação de solos artísticos (materiais cênicos, palavra performativa, corpo e voz).
O curso tem como objetivo a criação literária e construção cênica elaboradas a partir da memória pessoal
 (relatos autobiográficos). Estudo dos conceitos de mito e rito dentro da perspectiva do Mito do Herói
 (Joseph Campbell), e construção poética do Mito Pessoal.  
Comandadas por uma dupla de experientes, Giselle Rocha e Sandra Lessa, o curso propõe reflexões
 sobre a ficção e a realidade contidas dentro da narrativa da memória. Apresenta modos de transformar 
lembranças de momentos da vida em duas linguagens artísticas: escritas literárias e narrações
 cênicas. Constrói uma integração  com a escrita e a oralidade, evidenciando as particularidades 
de cada linguagem focando na integração dessas composições, buscando gerar um ‘recriação da memória’ 
por meio da arte.  
Os interessados em se inscrever no curso, podem mandar um email para admin@museudapessoa.net. 

Serviço
Participantes: Até 30 pessoas
Local: Instituto Museu da Pessoa
Rua Natingui, 1100, Vila Madalena
Telefone: 2144-7150
Datas: 11/02, 18/02, 04/03, 11/03, 18/03 e 25/03. No primeiro dia, o curso acontecerá de
 09h00 às 16h00 e nos dias seguintes de 09h00 às 13h00.


sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Brincar sem brinquedo: qual é a importância para a criança? - Catraquinha

img_3875

As maiores brincadeiras estão dentro da cabeça da criança, ou seja, surgem através da imaginação. Nem sempre é preciso de um brinquedo para poder brincar e se divertir. E, na verdade, é bom que a criança não brinque mesmo sempre somente com brinquedos prontos para que ela aprenda a usar sua criatividade e estimule a capacidade de construir.
Um simples graveto pode se transformar em uma varinha mágica, ou em um foguete, ou quem sabe em um bichinho que anda pelo mato. Vale tudo o que a imaginação da criança permitir e saber criar suas próprias brincadeiras sem brinquedos é importante para o desenvolvimento infantil.
Folha de coqueiro vira barquinho nas mãos de menino.
Créditos: Território do Brincar
Folha de coqueiro vira barquinho nas mãos de menino.
O exercício de transformar objetos e situações em brincadeiras é muito importante  na vida de uma criança. A frase “dar asas à imaginação” sempre foi muito coerente e hoje, com tantos brinquedos à disposição dos pequenos, é preciso ser estimulada e praticada de todas as maneiras.
Em entrevista para Carta Educação, Tatiana Weberman, responsável pelo SlowKids – movimento que propõe a desaceleração para a infância – diz que é preciso não deixar disponível às crianças tantos brinquedos com funções especificas e nem planejar tantas atividades para elas. “Deixar menos opções, muitas vezes, é abrir uma porta para a criatividade e uma vastidão de possibilidades”, afirma.
Na mesma entrevista, Graziela Iacooca, criadora da plataforma de brincadeiras Massacuca, conta que, ao contrário de muitos adultos, as crianças não precisam de instruções para brincar com objetos do cotidiano. “A nossa proposta é tirar o lúdico de objetos normais, o que a criança sabe fazer. Estamos ensinando os adultos a disponibilizar isso para os pequenos”, explica.
Uma das propostas oferecidas por Graziela é fazer um baú de tesouros com uma caixa, balde ou sacola e diferentes objetos da casa – que podem ser utensílios da cozinha em tamanhos e materiais diferentes – para, a partir daí, a criança criar várias histórias e descobertas. Outra sugestão é congelar, mergulhar, ornamentar, enterrar ou fazer qualquer outra coisa que a criatividade permitir com esses mesmos objetos. O Catraquinha já publicou ideias como essas aqui e aqui.
O documentário Território do Brincar aborda o brincar livre a partir do ponto de vista e pesquisa da cineasta Renata Meirelles. Para a produção, ela viajou com o marido e os dois filhos (agora com 6 e 8 anos) por 9 estados brasileiros, se estabelecendo em 14 comunidades diferentes, para observar e estudar as brincadeiras espontâneas infantis. Os destinos escolhidos foram locais com pouca estrutura como o Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, ou o Recôncavo Baiano.
brincar_livre_2
Créditos: Território do Brincar
Meninas brincam de amarelinha de "dias da semana", desenhada no chão.
Também em entrevista para o Carta Educação, Renata diz que mesmo os brinquedos mais comuns, como um carrinho ou barquinho, quando são feitos pela própria criança contam uma história e geram um vínculo diferente com ela. A cineasta conta que se impressionou com a diversidade de composições de brinquedos e brincadeiras criadas pelas crianças dos locais por onde passou.
Para ela, uma das lições que o projeto Território do Brincar passa é que as crianças precisam da ausência de brinquedos prontos para que possam acessar os próprios desejos, vontades e interesses. “Elas conseguem concretizar na prática seus sonhos com sua imaginação”, diz.
https://catraquinha.catracalivre.com.br/geral/manual-de-brincadeiras/indicacao/brincar-sem-brinquedo/