Para todos aqueles que sentem saudades dos seus entes queridos que partiram desta vida. Para os que perderam seus pais, mães, avós, tios, primos, amigos... neste momento, para minha avó Maria, Rufina, vô Sebastião Nunes, Sebastião Vieira, João Nunes, tia Cidinha, Gringuinho, tio Aurino, Doge, Maurício, Feijózinha, Godofredo meu anjinho, Marcia, Roberto e tantos e tantos outros amados com a certeza que um dia nos reencontraremos, mas agora, Saudade.
Também aos amigos de outrora, aqueles que se foram sem na verdade terem partido, aqueles que o tempo, ou a distância ou a vida maluca que levamos acaba afastando... mas que continuam em nossos corações, Saudade.
Uma linda história, Dona Saudade...
Desde muito pequeno, Fernando sempre foi muito grande.
Ele crescia mais pra dentro do que pra fora. Ele crescia pequenininho, já aprendendo coisas de adulto, mas sabendo virar cada vez mais criança.
Não demorou muito para Fernando perceber que as perguntas difíceis que fazia quase nunca os mais velhos sabiam responder. E das perguntas mais complicadas, nem as crianças sabiam as respostas.
Havia uma fadinha preciosa que andava sempre ao lado de Fernando. Ela muitas vezes o ajudava. Tinha respostas bonitas pra tudo. E, mesmo que não tirasse as dúvidas de Fernando, e mesmo que não matasse sua curiosidade, pintava de cores bem vivas aquele pedaço branco que a pergunta deixava no ar para ser colorido pela resposta.
Era uma fadinha bonita pra danar!
Um dia, a fadinha desfadou.
Acho que ela quis deixar uma pergunta bem complicada sem resposta: a pergunta mais embrulhada de todas. Parecia que a fadinha sabia que só Fernando descobriria a resposta. E sabia também que se ela estivesse por perto, ele esqueceria de procurar esta resposta dentro de si mesmo. Fernando iria logo perguntar a ela e esqueceria que carregava a imensa sabedoria que só criança muito criança, crescida pra dentro, tem.
Fernando ficou muito aborrecido com o sumiço da fadinha.
Começou a ter que crescer pra valer. Mais do que nunca ele precisava da fadinha, mas ela tinha desaparecido mesmo.
"Pra onde vão as pessoas que somem da nossa frente?"
Como ter certeza de que o amigo está na cas dele, a prima no balé, o irmão no futebol e a avó no céu!?
Não estamos vendo!
A única coisa de que não tinha dúvida, era de que quando as pessoas que amava desapareciam, às vezes até por uma gigantesca horinha, ele encontrava Dona Saudade.
Dona Saudade tinha mania de persegui-lo. Sempre, quase sempre, em momentos ruins.
Ela roubava todo mundo e sentava no colo de Fernando, com aquele peso pesado, para ele ter certeza de que ela estava ali, para ele sentir ainda mais sua presença.
Dona Saudade era enorme, feia, bruta e ladra. Ela irritava Fernando e machucava seu colo.
Quando ela aparecia, Fernando só pensava na fadinha... Onde estaria? Que resposta daria quando ele perguntasse como fazer pra destruir a danada da Dona Saudade?
Então, quando Dona Saudade aparecia, Fernando saia correndo, empurrava-a de seu colo, se escondia e tentava não olhar pra sua cara.
Tinha muita raiva daquela ladra de pessoas, que insistia em persegui-lo.
Um dia, Fernando estava se sentindo forte, muito forte. Cheio de alegria, cheio de coragem, cheio de amor. Nesse dia, resolveu enfrentar Dona Saudade.
Deitou em sua cama, apagou a luz, fechou os olhos, tirou o cobertor e ficou quietinho, esperando.
Não demorou muito e sentiu um peso pesado sentado bem no meio do peito. Abriu rapidinho os olhos. Abriu também o coração e convidou Dona Saudade, sem nada dizer, pra entrar.
Dona Saudade, diante do convite de Fernando, ficou reticente.
O que estaria havendo?! Isso nunca havia acontecido com ela antes. Sempre que chegava, todo mundo a expulsava. Achou estranho, mas foi se aconchegando, devagarzinho.
Dona Saudade estava desconfiadíssima. Discreta, bem mais magra, resolveu não assustar o menino.
Aos pouquinhos, quando percebeu que Fernando não ia fugir, foi trazendo todo mundo que havia deixado no Céu-Lar, o lugar onde morava, e lentamente foi guardando tudo dentro dela.
Cada pessoa, llugar ou coisa que ia trazendo pra dentro de si, ia fazendo Dona Saudade engordar tudo de novo. Assim, ela foi voltando a seu peso normal. Ela queria que o menino a conhecesse por inteira, grande do jeito que ela era. Não gostava de disfarçar.
Fernando foi respirando cada vez mais rápido, e deixando Dona Saudade entrar.
Até que ela entrou inteirinha.
Fernando, quando olhou pra dentro de si, viu tudo. Entendeu tudo.
Dona Saudade de fato carregava todo mundo.
Dona Saudade de fato, apesar de todo seu peso danado de pesado, coube dentro do seu corpinho pequenininho. Como pôde?
Dona Saudade de fato queria ser sua amiga. E seria.
Fernando ficou enorme.
Uma criança cheia, tão cheia que não cabia mais dentro de si.
Lá dentro de Dona Saudade, que estava dentro de Fernando, estava a fadinha com uma cara feliz. Com uma cara de abraço apertado.
Lá dentro de Dona Saudade, que estava dentro de Fernando, estava o amigo, a prima, o irmão, a avó...
Lá estavam tantos outros!
Dona Saudade finalmente ficou feliz pela primeira vez em sua vida.
Não era fácil vir diariamente do planeta Céu-Lar, carregando tanta gente, e terminar sendo rejeitada por todos. Ninguém abria a porta pra ela. Era por isso que doía. Porque doía nela.
Fernando encontrou a resposta e acolheu Dona Saudade.
Desde então, vendo principalmente como ela esticava e encolhia, ele virou seu melhor amigo.
Fernando carregava Saudade, que de Dona não tinha nada, pra todos os lugares que ia. E com ela, carregava todo mundo que queria.
Ela o acompanhava e ocupava todos os cantos. Até os mais silenciosos.
Quando Fernando queria estar pertinho de alguém, se Saudade não estivesse por perto bastava chamá-la que chegava rapidinho, com todo mundo a tiracolo.
Fernando não cansava de olhá-la.
Também, era bonita demais: corpinho rechonchudo de nuvem colorida, duas estrelas incrustadas no rosto, que viam tudo, até o invisível.
Dona Saudade também tinha um sorriso solar, que iluminava e abrigava o mundo inteiro!
Saudade, certo dia, contou um segredo muito secreto para o seu novo e grande amigo. Um segredo que, aliás, nem precisava ter contado: ele logo percebeu.
Saudade, quando acolhida, fica levinha, levinha, com peso de nuvem sem lágrima: com peso, tamanho e aconchego de céu sem chuva!
Muitas saudades!
Drika Nunes
" Quando o coração da gente transborda, ele sai pela boca em forma de histórias. " ditado etíope
sexta-feira, 31 de agosto de 2012
A carroça vazia - autor desconhecido
Certa manhã, meu pai muito sábio me convidou a dar um passeio no bosque e eu aceitei com prazer.
Ele se deteve numa clareira e depois de um pequeno silêncio, me perguntou: "Além do canto dos pássaros, você está ouvindo mais alguma coisa?"
Apurei meus ouvidos por alguns segundos e respondi: "Estou ouvindo um barulho de carroça."
"Isso mesmo, e de uma carroça vazia!"
Perguntei-lhe como sabia que a carroça estava vazia e ele me respondeu: "Ora, é muito fácil saber se uma carroça está vazia por causa do seu barulho."
Tornei-me adulto e até hoje quando vejo uma pessoa falando demais, tratando o próximo com grossura, prepotência, arrogância e se achando dono da verdade absoluta, tenho a imprssão de ouir a voz do meu pai dizendo: "Quanto mais vazia a carroça, maior é o barulho que ela faz..."
Não seja uma pessoa barulhenta e sem conteúdo, vazia como uma carroça. Encha-se de amor de Deus e fale desse amor para os que estão ao seu redor.
Ele se deteve numa clareira e depois de um pequeno silêncio, me perguntou: "Além do canto dos pássaros, você está ouvindo mais alguma coisa?"
Apurei meus ouvidos por alguns segundos e respondi: "Estou ouvindo um barulho de carroça."
"Isso mesmo, e de uma carroça vazia!"
Perguntei-lhe como sabia que a carroça estava vazia e ele me respondeu: "Ora, é muito fácil saber se uma carroça está vazia por causa do seu barulho."
Tornei-me adulto e até hoje quando vejo uma pessoa falando demais, tratando o próximo com grossura, prepotência, arrogância e se achando dono da verdade absoluta, tenho a imprssão de ouir a voz do meu pai dizendo: "Quanto mais vazia a carroça, maior é o barulho que ela faz..."
Não seja uma pessoa barulhenta e sem conteúdo, vazia como uma carroça. Encha-se de amor de Deus e fale desse amor para os que estão ao seu redor.
Acredito que errado é aquele que fala correto e não vive o que diz
O Teatro Mágico.
quarta-feira, 29 de agosto de 2012
28 de Agosto - Dia do Voluntariado, nosso dia!
Olá querido companheiro de caminhada, tudo bem contigo?? Esperamos que sim!
Hoje, 28 de agosto, é comemorado o Dia Nacional do Voluntário!!
Queremos te agradecer por tudo que já passamos juntos nesta caminhada e torcemos para que este seja só o início de uma linda jornada que ainda teremos pela frente!!
O Canto Cidadão parabeniza a todos que exercem alguma atividade voluntária e que este dia possa ser comemorado não apenas com palavras, mas também com ações no cotidiano.
Beijos e sorrisos!!
terça-feira, 28 de agosto de 2012
História Viva em São Paulo
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Ziraldo - na Biblioteca São Paulo com Rebeca Gelse Rodrigues
Para a Biblioteca São Paulo as vagas serão preenchidas por ordem de inscrição, recebidas pelo e-mail abaixo.
Esteja atento(a) na data. São poucas vagas.
Aguardo sua presença. Caso tenha um exemplar do livro Flicts de Ziraldo, traga no primeiro encontro.
Rebeca
curso: ZIRALDO ARTISTA PLURAL
objetivo: identificar a importância de Ziraldo para a cultura brasileira, explorando as várias áreas da sua versatilidade: desenhista, humorista político, cartunista, cartazista, jornalista, advogado, autor teatral, escritor e ilustrador originalíssimo, com espírito lúdico e de uma linguagem visual politizada e revolucionária que transformou a Literatura InfantoJuvenil nacional e internacional.
docente: Rebeca Gelse Rodrigues: psicóloga e especialista em LIJ.
público alvo: adolescentes, adultos. Profissionais e estudantes ligados as área de: Educação, Artes, Comunicação e Design. Apostila e certificado para todos participantes.
dias: 12, 13, 19, 20, 26 e 27 de setembro de 2012( quartas e quintas-feiras)
horários: das 18h30 às 20h30. Será tolerado para entrada o horário das 19h, por se tratar de horário de intenso trânsito.
duração total: 12 h
taxa: gratuito.
local: Biblioteca São Paulo(BSP). Av. Cruzeiro do Sul, 2630- Parque da Juventude, ao lado da estação Carandirú do Metro – bairro de Santana em São Paulo- Capital
Formas de inscrição:
2. Ou no balcão de atendimento da BSP de terça a sexta, das 09h30 às 17h30. É necessário fazer a carteirinha da Biblioteca, para isso, leve RG e comprovante de residência.
Drika Nunes fazendo histórias na Bienal do Livro 2012 - 22ª Edição.
Agosto finaliza me deixando um grande presente, já com sabor de saudade. Tive o prazer de compartilhar histórias nesta edição da bienal do livro de São Paulo no Stand do Submarino, pela Editora Nobel.
Confira algumas fotos desse momento tão especial para mim.
Confira algumas fotos desse momento tão especial para mim.
quinta-feira, 23 de agosto de 2012
E com vocês, Marília Tresca - Agosto e Setembro
Caminhando,
"Eu aprendi o silêncio através do tagarela, tolerância
através do intolerante, e bondade através do cruel; e
ainda estranho, eu sou ingrato a esses professores."Kahlil Gibran
através do intolerante, e bondade através do cruel; e
ainda estranho, eu sou ingrato a esses professores."Kahlil Gibran
Meu desejo é que nós aceitemos as diferenças como complemento da nossa caminhada à conquista do aperfeiçoamento como seres humanos. Que possamos ter tolerância aos outros assim como desejamos que os outros nos tolerem.
Com carinho,
Marilia Tresca
Curso Caminhando, Cantando e Contando Histórias
Tema– “Contos que resgatam valores”
Orientação: Marilia Tresca -professora de Artes e Contadora de Histórias
Carga horária: 4 horas / com certificado Data: 26/08/2012 – Domingo
Carga horária: 4 horas / com certificado Data: 26/08/2012 – Domingo
Horário: 9h às 13h
Novo Local: Núcleo CRE-SER – Rua do Grito, 122 -Ipiranga – São Paulo – SP (Próximo ao metrô Sacomã – linha verde)
Investimento: R$ 50,00
Depositados no Itaú - agência 6681 conta 02204-9 em nome de Marilia Tresca Silva Telles de Mello
Inscrições: por e-mail: mariliatresca@gmail.com(enviar ficha de inscrição preenchida)
Ou por telefone (11) 9801-4740
Total de vagas: 25
Depositados no Itaú - agência 6681 conta 02204-9 em nome de Marilia Tresca Silva Telles de Mello
Inscrições: por e-mail: mariliatresca@gmail.com(enviar ficha de inscrição preenchida)
Ou por telefone (11) 9801-4740
Total de vagas: 25
Não há necessidade de pré-requisitos
Curso totalmente prático
Observação : Após o curso, a partir das 15h haverá um sarau de contadores de histórias e feira de livros usados. Estão todos convidados.
Curso totalmente prático
Observação : Após o curso, a partir das 15h haverá um sarau de contadores de histórias e feira de livros usados. Estão todos convidados.
FICHA DE INSCRIÇÃO - Curso dia 26/08/2012 (domingo) 9h às 13h
Nome -
Endereço –
Cidade -
Telefone -
e-mail -
Idade -
Atividade exercida -
Como tomou conhecimento do curso ?
Qual o objetivo em fazer o curso ?
Telefone -
e-mail -
Idade -
Atividade exercida -
Como tomou conhecimento do curso ?
Qual o objetivo em fazer o curso ?
Vai participar do sarau ?
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Sarau de Contadores de Histórias
Data: 26/08/2012– Domingo
Horário: 15h às 18h
Novo Local: Núcleo CRE-SER – Rua do Grito, 122 -Ipiranga – São Paulo – SP (Próximo ao metrô Sacomã – linha verde)
Ingresso: 1 prenda para o bingo de Natal que será em novembro 2012.
Traga um prato de doce, salgado ou fruta para o nosso lanche comunitário e uma história para contar (tema livre). Por favor, confirme sua participação preenchendo a ficha de inscrição abaixo.
Total de vagas: 40
FICHA DE INSCRIÇÃO – Sarau 26/08/2012 (domingo) 15h às 18h
Nome -
Endereço –
Cidade -
Telefone -
e-mail -
Idade -
Atividade exercida -
Vai contar histórias no sarau ?
Telefone -
e-mail -
Idade -
Atividade exercida -
Vai contar histórias no sarau ?
Observação : As fotos do curso e do sarau de junho já estão no meu blog :www.marilia-tresca.blogspot.com
E em Setembro:
Dia 23 - domingo
Curso BrincaMundo com a professora Leide Vania Marques Felicio
Bem antes do vídeo-game, internet e jogos eletrônicos as crianças do mundo inteiro inventaram seus próprios jogos e brinquedos.
Venha conhecer alguns deles nesse divertido encontro criado para educadores, brinquedistas e todos aqueles que gostam de um bom jogo.
Recomendo:
Oficina: Contador de História, Segredos e Técnicas para Crianças, Jovens e Adultos
Orientação: Dora Bueno Estevez, Pedagoga , Contadora de Histórias e Palestrante.
Data: 10/11/2012 – sábado (Matrículas até 07/11/2012)
Horário:9h às 15h
Local: Instituto Educacional São Paulo - Rua Treze de Maio, 1663 - Bela Vista
Tels.: (11) 3253-7665 / (11) 3253-5048 / (11) 3253-6042
Conteúdo:
-Estimular e desenvolver potencialidades naturais para a arte de contar histórias.
-Caracterizar a importância do Contador de Histórias como elemento motivador na construção do hábito e prazer pela leitura.
-Escolha da história;
-Estudo;
-Formas de apresentação;
-Narração ;
-Dinâmicas a partir da história.
Saiba mais...
Cantando,
Tolerância
Como água no deserto
Procurei seu passo incerto
Pra me aproximar
A tempo
O seu código de guerra
E a certeza que te cerca
Me fazem ficar atento
Não me importa a sua crença
Eu quero a diferença
Que me faz te olhar
De frente
Pra falar de tolerância
E acabar com essa distância
Entre nós dois
Deixa eu te levar
Não há razão e nem motivo
Pra explicar
Que eu te completo
E que você vai me bastar
Tô bem certo de que você vai gostar
Você vai gostar
Como lava no oceano
Um esforço sobre-humano
Pra recomeçar
Do zero
Se pareço ainda estranho
Se não sou do seu rebanho
E ainda assim
Te quero
É que o amor é soberano
E supera todo engano
Sem jamais perder
O elo
E é por isso que te espero
E já sinto a mesma coisa em seu olhar
Deixa eu te levar
Não há razão e nem motivo
Pra explicar
Que eu te completo
E que você vai me bastar, eu sei
Tô bem certo de que você vai gostar
Você vai gostar
Procurei seu passo incerto
Pra me aproximar
A tempo
O seu código de guerra
E a certeza que te cerca
Me fazem ficar atento
Não me importa a sua crença
Eu quero a diferença
Que me faz te olhar
De frente
Pra falar de tolerância
E acabar com essa distância
Entre nós dois
Deixa eu te levar
Não há razão e nem motivo
Pra explicar
Que eu te completo
E que você vai me bastar
Tô bem certo de que você vai gostar
Você vai gostar
Como lava no oceano
Um esforço sobre-humano
Pra recomeçar
Do zero
Se pareço ainda estranho
Se não sou do seu rebanho
E ainda assim
Te quero
É que o amor é soberano
E supera todo engano
Sem jamais perder
O elo
E é por isso que te espero
E já sinto a mesma coisa em seu olhar
Deixa eu te levar
Não há razão e nem motivo
Pra explicar
Que eu te completo
E que você vai me bastar, eu sei
Tô bem certo de que você vai gostar
Você vai gostar
E contando histórias...
Resolução de Conflitos
O trem atravessava sacolejando os subúrbios de Tóquio numa modorrenta tarde de primavera. Nosso vagão estava comparativamente vazio: apenas algumas donas de casa com seus filhos e uns velhos indo fazer compras. Eu olhava distraído pela janela a monotonia das casas sempre iguais e das sebes cobertas de poeira.Chegando a uma estação, as portas se abriram e, de repente, a quietude da tarde foi rompida por um homem que entrou cambaleando no nosso vagão, gritando com violência imprecações incompreensíveis. Era um homem forte, encorpado, com roupas de operário. Estava bêbado e imundo. Aos berros, esbofeteou uma mulher que carregava um bebezinho. A força do tapa fez com que ela fosse cair no colo de um casal idoso. Só por um milagre nada aconteceu ao bebê.
Aterrorizado, o casal deu um pulo e fugiu correndo para a outra extremidade do vagão. O operário tentou ainda dar um pontapé na velha, mas errou a mira e ela conseguiu escapar. Isso o deixou em tal estado de fúria que agarrou a haste de metal no meio do vagão e tentou arrancá-la do balaústre. Pude ver que uma das suas mãos estava ferida e sangrava. O trem seguiu em frente, com os passageiros paralisados de medo. Eu me levantei.
Na época, cerca de vinte anos atrás, eu era jovem e estava em excelente forma física. Vinha treinando oito horas de aikidô quase todos os dias há quase três anos. Gostava de lutar corpo a corpo e me considerava bom de briga. O problema é que minhas habilidades marciais nunca haviam sido testadas em um combate de verdade. Nós alunos de aikidô somos proibidos de lutar.
"Aikidô", meu mestre não cansava de repetir, "é a arte da reconciliação. Aquele cuja mente deseja brigar perdeu o elo com o universo. Se tentarem dominar as pessoas, estarão derrotados de antemão. Nós estudamos como resolver conflitos, não como iniciá-los."
Eu ouvia essas palavras e me esforçava. Chegava a atravessar a rua para evitar os chimpira, os pungas dos videogames que costumam vadiar perto das estações de trem. Ficava exultado com minha própria tolerância e me considerava um valentão reverente, piedoso mesmo. No fundo do coração, porém, desejava uma oportunidade absolutamente legítima em que pudesse salvar os inocentes destruindo os culpados.
Chegou o dia! pensei comigo mesmo enquanto me levantava. Há pessoas correndo perigo e se eu não fizer alguma coisa é bem possível que elas acabem se ferindo.
Quando me viu levantando, o bêbado percebeu a chance de canalizar a sua ira.
- Ah! - rugiu ele. – Um estrangeiro! Você está precisando de uma lição em boas maneiras japonesas!
Eu estava de pé, segurando de leve nas alças presas ao teto do vagão, e lancei-lhe um olhar de nojo e desprezo. Pretendia acabar com a sua raça, mas precisava esperar que ele me agredisse primeiro. Queria que ficasse com raiva, por isso curvei os lábios e mandei-lhe um beijo insolente.
- Agora chega! – gritou ele. – Você vai levar uma lição. – E se preparou para me atacar.
Mas uma fração de segundo antes que ele pudesse se mexer, alguém deu um berro:
- Ei!
Foi um grito estridente, mas lembro-me que tinha um estranho timbre, jubiloso e cadenciado, como quando estamos procurando alguma coisa junto com um amigo e ele subitamente a encontra: "Ei!"
Virei para a esquerda, o bêbado para a direita. Nós dois olhamos para um velhinho japonês que estava sentado em um dos bancos. Devia ter bem mais de setenta anos, esse minúsculo senhor, e vestia um quimono impecável. Não me deu a menor atenção, mas sorriu com alegria para o operário, como se tivesse um importantíssimo e delicioso segredo para lhe contar.
- Vem aqui – disse o velhinho num tom coloquial e amistoso. – Vem aqui conversar comigo – insistiu, chamando-o com um aceno de mão.
O homenzarrão obedeceu, mas postou os pés beligerantemente diante dele e gritou por cima do barulho das rodas nos trilhos:
- Por que diabos vou conversar com você?
Ele agora estava de costas para mim. Se o seu cotovelo se movesse um milímetro que fosse eu o esmagaria. Mas o velhinho continuou sorrindo para o operário.
- O que você andou bebendo? – perguntou, os olhos brilhando de interesse.
- Saquê – rosnou de volta o operário – e não é da sua conta! – completou, lançando perdigotos no rosto do velho.
- Que ótimo – retrucou o velho. – Excelente mesmo. Eu também adoro saquê! Todas as noites, eu e minha esposa (ela está com 76 anos, você sabe) aquecemos uma garrafinha de saquê e vamos até o jardim nos sentar num velho banco de madeira. Ficamos olhando o pôr-do-sol e vendo como vai indo o nosso caquizeiro. Foi meu bisavô quem plantou essa árvore, e estávamos preocupados achando que ela não fosse se recuperar das tempestades de gelo do último inverno. Mas a nossa arvorezinha saiu-se melhor do que esperávamos, ainda mais se considerarmos a má qualidade do solo. É gratificante olhar para ela quando levamos uma garrafinha de saquê para apreciar o final da tarde, mesmo quando chove!
E olhava para o operário, seus olhos reluzentes. O rosto do operário, que se esforçava para acompanhar a conversa do velhinho, foi se abrandando e seus punhos pouco a pouco relaxando.
- É, é bom. Eu também gosto de caqui... – mas sua voz acabou num sumiço.
- São deliciosos – concordou o velho sorrindo. – E tenho certeza de que você também tem uma ótima esposa.
- Não – retrucou o operário. – Minha esposa morreu.
Suavemente, acompanhando o balanço do trem, aquele homenzarrão começou a chorar.
- Eu não tenho esposa, eu não tenho casa, eu não tenho emprego. Eu só tenho vergonha de mim mesmo.
Lágrimas escorriam pelo seu rosto; um frêmito de desespero percorreu-lhe o corpo.
Chegara a minha vez. Lá estava eu, com toda a minha imaculada inocência juvenil, com toda a minha vontade de tornar o mundo um lugar melhor para se viver, sentindo-me de repente mais sujo do que ele.
O trem chegou à minha estação. Enquanto as portas se abriam, ouvi o velho dizer solidariamente:
- Minha nossa, que desgraça. Sente-se aqui comigo e me diga o que houve.
Voltei-me para dar uma última olhada. O operário escarrapachara-se no banco, a cabeça no colo do velhinho, que afagava com ternura seus cabelos emaranhados e sebosos.
Enquanto o trem se afastava, sentei-me num banco da estação. O que eu pretendera resolver pela força fora alcançado com algumas palavras meigas. Eu acabara de presenciar o aikidô num combate de verdade, e a sua essência era o amor. A partir de agora teria que praticar a arte com um espírito totalmente diferente. Muito tempo passaria antes que eu voltasse a falar sobre a resolução de conflitos.
(Terry Dobson - Histórias da Alma, Histórias do Coração - Editora Pioneira)
História Viva em São Paulo - Treinamento de novos voluntários
--
Projeto Velho Amigo apresenta:
Treinamento - São Paulo/SP 2012 - 2º semestre: História Viva Ouvir e Contar
Uma parceria Instituto História Viva, com a Casa Hope e o Projeto Velho Amigo.
Venha ser voluntário do Projeto Velho Amigo & História Viva!
Ouvindo e Contando Histórias!
Programa sem custos! *vagas limitadas!
Programa
O curso inicia dia 18 de agosto e vai até dia 08 de dezembro.
As aulas serão sempre aos sábados das 14h às 17h.
§ Agosto: 18 e 25
§ Setembro: 1º, 15, 22 e 29
§ Outubro: 06, 20 e 27
§ Novembro: 10 e 24
§ Dezembro: 1º, 08
Formatura: 08 de Dezembro, das 19h às 21h
--
Inscrições: mayra@historiaviva.org.br (A/C Mayra)
Maiores informações: 11-3071-4040
--
Projeto Velho Amigo - www.velhoamigo.org.br
Realização:
Instituto História Viva - www.historiaviva.org.br
Apoio:
Casa Hope - www.hope.org.br
Mantenedor cultural:
Fundação Carlos Chagas - www.fcc.org.br
BELMONTE EM TARDE DE GALA, CONVIDA
Convidamos você que atua na arte educação, arte literária, arte cênica, arte narrativa, arte culinária, ludicidade, artesanato, sala de leitura, ENFIM você que incentiva/valoriza as competências criadoras, para uma tarde especial de lançamento do livro: TOINHA DOS INHAMUNS, A MENINA QUE AMAVA AS PALAVRAS! Uma obra que celebra a infância, a paixão pelos livros e a beleza das palavras. Para nossa alegria, a autora é funcionária da Biblioteca, Antonia Andréa de Sousa. Agende-se para uma tarde de compartilhamento e proposituras de saberes. Ao final, teremos RAPADURA NA CHITA.
LANÇAMENTO DE LIVRO - "Toinha dos Inhamuns: a menina que amava as palavras", primeiro livro da contadora de histórias e mediadora de leitura da Biblioteca Belmonte, Andrea de Sousa. No lançamento a contadora de histórias e mestre em psicologia infantil Ivani Magalhães conduz um bate papo sobre a ludicidade literária valendo-se das manifestações brincantes, provocações das competências artísticas e da celebração o ato de ler que a obra propõe. Toinha dos Inhamuns: a menina que amava as palavras será contada por João Luis do Couto. Para profissionais da arte narrativa, arte-educação, salas de leitura, brinquedistas e professores de portugues.Dia 22/08, 4ª.feira, às 14h30.
Dorinha Sant'Anna
Belmonte - Cultura Popular
Setor Acervo Temático, Divulgação e Cursos
F. 5687-0408
Programação de Setembro - Faz e Conta
Programacao de setembro
Dia 27/09 - Quinta-feiraexcepcionalmente na ultima quinta do mes por conta do Boca do Ceu
"Encontro com as Histórias"
Narração de uma história e conversa sobre ela. Os participantes que se inscreverem pelo blog ou e-mail receberão a história antes e poderão levar para o encontro sua contribuição para análise e reflexão.
Primeiro encontro marcado para o dia 9/08 das 20 às 22 horas
Contribuição: R$ 30,00 por encontro
"Encontro com as Histórias"
Narração de uma história e conversa sobre ela. Os participantes que se inscreverem pelo blog ou e-mail receberão a história antes e poderão levar para o encontro sua contribuição para análise e reflexão.
Primeiro encontro marcado para o dia 9/08 das 20 às 22 horas
Contribuição: R$ 30,00 por encontro
EM SETEMBRO!
Dia 2/ 09 - domingo das 11 às 13h
Ilana Pogrebinschi fala sobre seu processo criativo tanto no seu trabalho solo como nos Tapetes Contadores de Histórias, compartilha contos, canções e recursos visuais que utiliza. O público interage fazendo perguntas durante a apresentação.
Ilana Pogrebinschi é Atriz desde 1992 e Contadora de Histórias desde 2000. Desenvolve um trabalho solo de contação com bonecos, fantoches e máscaras de papel machê confeccionados por ela mesma e toca violão e flauta transversa. Ministra Oficinas de Contação de Histórias para adultos e jovens. Também é integrante do grupo Os Tapetes Contadores de Histórias. Reside no Rio de Janeiro e também se apresenta em São Paulo, Curitiba, Brasília, Salvador e Santa Catarina.
Contribuição: R$ 50,00
Dia 22 - Sábado
Encontro com Cesar "El Wayqui" Villegas
Narrador oral de contos
Encontro com Cesar "El Wayqui" Villegas
Narrador oral de contos
(PERÚ)
das 15 às 18 horas
Oficina
Oficina
das 20 às 21 h
Narração de Hitsórias
Narração de Hitsórias
Contribuição:
Só a oficina: R$ 80,00
Só a apresentação: R$ 30,00
Pacote Oficina + apresentação: R$ 100,00
Só a apresentação: R$ 30,00
Pacote Oficina + apresentação: R$ 100,00
César “El Wayqui” Villegas, nasceu em Perú. É narrador oral de histórias y há 12 anos investiga e partilha contos antigos com sabor à presente, histórias que viajam no tempo e escondem riquezas que se descubrem no interior de quem as escutam. De sua palavra renascem imagens e sensações que nos permitem com sensibilidade, humor, fantasia e realidade conhecer a tradiçao popular de diversos povos de Perú e do mundo. É consultor de gestão e aplica a narração oral como ferramenta de gestão em diversas organizações e empresas.
Apresentou-se e deu cursos em Festivais Internacionais, feiras do livro, espaços de narraçao oral e outros em 17 países: Alemanha, Argentina, Brasil, Bélgica, Colômbia, Cuba, Chile, Equador, Eslováquia, Espanha, França, Hungría, Itália, México, Perú, Portugal e Suíça.
Dirige a associação cultural Wasi e fundou a primera escola de narração oral do Perú. É diretor do Festival Internacional de Narração Oral "Todas las palabras, Todas” , o primeiro evento deste tipo que conta com o patrocínio do Ministério da Cultura peruano, assim como de importantes empresas e organizações.
Foi produtor da série de Tv e Rádio: “Rimaq Mayu” (Rió de palabras), que
reune a diversos narradores orales que presentan diversos relatos de tradición oral peruana.
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