segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Como o gato e o rato se tornaram inimigos - conto africano

 
Naquela noite, a tempestade não deixou ninguém dormir na aldeia de Malafi. Na estação das chuvas, era sempre a mesma coisa. Chovia torrencialmente dias e noites sem parar. Malafi, encolhido na sua esteira, não se lembrava de ter visto e ouvido tantos raios e trovões assim.
Ao amanhecer, a trabalheira foi grande: tirar a lama de dentro das casas, providenciar uma nova cobertura para as palhoças que tiveram os tetos arrancados pela força do vendaval e, o pior, reunir o gado que, assustado com os relâmpagos, tinha arrebentado os currais e fugido desesperado pelos campos afora.
Mais tarde, as crianças foram refugiar-se na palhoça de Vovô Ussumane e, enquanto a chuva ainda caía fininha, o vovô ia desfiando outra de suas intermináveis histórias.
No tempo em que os gatos e ratos ainda eram amigos, aconteceu uma grande enchente. Os rios transbordaram inundando os campos as florestas.
Um gato e um rato foram pegos de surpresa pela chuvarada enquanto colhiam mandioca. Ficaram ilhados no alto de um morro, não sabendo como voltar para a aldeia onde moravam.
- E agora? - perguntou o gato.
- Tenho uma idéia - respondeu o rato. - Que tal construirmos uma jangada com os talos de mandioca?
O bichano aprovou a proposta do companheiro e começaram imediatamente a preparar a improvisada embarcação com os talos de mandioca que haviam colhido durante o dia inteiro de trabalho.
Logo que a jangada ficou pronta, os dois lançaram-na à água e puseram-se a caminho de casa. Como o rio estava muito cheio tinham de ir remando devagarinho.
Remaram e remaram até que o rato, morto de fome, resolveu comer um pedacinho da jangada.
- O que você está fazendo? - perguntou o felino.
- Estou com fome e por isso vou roer um bocadinho da jangada - respondeu o rato.
- Nada disso! - gritou o parente da onça. - Continue a remar!
Quando anoiteceu, cansado também de remar, soltou um miado e acabou dormindo. O dentuço aproveitou-se do sono do colega e começou a roer. Roeu tanto, que terminou fazendo um buraco bem no meio da jangada e catimbum: afundaram! Por sorte estavam perto da margem. Com muito esforço chegaram em terra firme, e então, o dorminhoco, enfurecido, falou para o roedor:
- Agora quem vai te comer sou eu, seu desastrado!
- Mas estou todo enlameado. Espere aqui um pouquinho que eu vou me lavar - disse o comilão ao mesmo tempo que desaparecia pela sua toca adentro.
Para se vingar, o outro esperou um tempão até perceber que tinha sido enganado. E é por causa desta briga que eles são inimigos até hoje.

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