sábado, 15 de outubro de 2011

Quais as Histórias indicadas para cada faixa etária?? - Escola Jeito de Ser

Uma das perguntas mais recorrentes nas oficinas de contação é
"Quais as histórias indicadas para cada faixa etária?".

Fico me perguntando se nos tempos idos os
contadores de causos que animavam os serões de histórias nas fazendas ou nos
povoados tinham essa preocupação e elucubravam a respeito.
Claro que não! A prática não seguia nenhum paradigma ou estabelecia limites para o
repertório contado. Com isso, a criança ouvia, ao lado de adultos, histórias de terror,
de mula sem cabeça e uma das primeiras intenções da arte de contar histórias era
alcançada: a de agregar. Mas os tempos mudaram e, quando digo isso, não quero dizer
que uma época seja melhor ou que esteja mais certa ou errada, não. O olhar era outro.
No Módulo I da Oficina de Contadores de Histórias, a investigação das raízes da
literatura infantil começa a partir do século XVII e, mais especificamente, a partir da
compilação que Charles Perrault fez das histórias tradicionais. Histórias que
culminaram na publicação de Contos da Mamãe Gansa (personagem dos velhos contos
populares franceses que contava historietas para seus filhotes) que incluía, entre
outros, Chapeuzinho Vermelho, As Fadas e a Bela Adormecida no Bosque. No entanto,
ainda não havia a intenção de ser produzida uma literatura específica para as crianças,
mesmo porque elas não eram entendidas como crianças.
No Brasil, surgiram, no final do século XIX, os Contos da Carochinha, que se
desdobraram em variantes extremamente influenciadas pelas amas africanas que as
contavam. Por ser um material que circulava pelas classes menos favorecidas, tinha
uma linguagem simples, que a todos encantava e não era tão importante saber se uma
criança de cinco anos estava compartilhando a mesma história com seu irmão de doze.
Contos que, na maioria das vezes, falavam da busca do autoconhecimento, ritos de
passagem que pegavam carona no fantástico e que ajudaram tantas identidades a se
formarem.
Hoje em dia já não vamos tanto pela intuição, infelizmente. Precisamos ter certeza
absoluta e errar muito pouco, principalmente com nossos filhos. Afinal, a vida anda
corrida demais e já não temos tempo sobrando para arriscarmos ou experimentarmos
e, ao final, não sermos pedagogicamente corretos.
Acho que essa questão de faixa etária é mais mercadológica do que qualquer outra
coisa. É claro que o bom senso conta muito. Não vamos contar os Contos da Morte
Lograda para uma criança de 4 anos, assim como não vamos contar Os Sete
Cabritinhos para um préadolescente.
É preciso dedicar tempo e não buscar ter tudo pronto. Contar histórias é uma arte que
envolve pesquisa, atenção, discernimento, percepção e proximidade. Não dá para o
livro estar lá na estante e você no outro extremo buscando receitas prontas para
facilitar a sua vida.
São poucos os pais que compartilham realmente do prazer de ouvir histórias ao lado
dos filhos. Nós, contadores, sabemos muito bem disso por conta da nossa experiência
em livrarias e centro culturais: os pais abandonam os filhos no canto dos contos e só
reaparecem no final. Em casa é que começa a tarefa que delegamos à escola: a de
fazer de nossos filhos leitores ávidos e ela começa bem cedo com as parlendas e as
cantigas de roda. É o primeiro caminho para tornar sedutor o exercício da leitura e
fazer com que a criança peça mais. Depois, vamos inserindo as fábulas, as narrativas
curtas que envolvem brinquedos e alimentos e, aí sim, começamos a contar as
histórias mais elaboradas: os contos de fada, de encantamento. E, então, quando nos
damos conta, temos à nossa frente um devorador de livros. E ele, sem dúvida, vai se
tornar um adulto muito mais interessante e sensível.
Boa sorte!

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