Um sabio era professor de alguns jovens estudiosos. Um dia, com a chegada do outono, eles foram perguntar ao professor que roupa deveriam usar com a proximidade do frio. “Vistam-se como os campos”, respondeu o sábio. Os alunos então subiram à uma colina e durante dias olharam os campos. Quando desceram, foram para a cidade, onde compraram tecidos de muitas cores e fios. Sob o olhar do sábio, abriram os rolos de seda, cortaram quadrados de veludo, emendaram com tiras de cetim. Aos poucos, foram criando longas vestes como os campos arados, com o vivo verde da primavera. Entremearam fios de ouro no amarelo dos trigais, fios de prata no alagado das chuvas e chegaram ao branco brilhante da neve,
As vestes suntuosas estendiam-se como mantos.
O sábio a tudo assistia. E nada falava.
Apenas um jovem não havia feito sua roupa. Esperava que o algodão estivesse em flor para colhê-lo. E quando teve os tufos, os fiou. E quando teve os fios, os teceu. Depois vestiu sua roupa branca e foi para o campo trabalhar. Arou e plantou. Muitas e muitas vezes sujou-se de terra. Manchou-se com o sumo das frutas e da seiva das plantas, a roupa já não era branca, embora ele a lavassse no rio. Plantou e colheu. A roupa rasgou-se, o tecido puiu-se. O jovem emendou os ragos com fios de lã, costurou e remendou onde o tecido cedia. E quando a neve veio, prendeu em sua roupa mangas mais grossas para se aquecer.
Agora, a roupa do jovem era de tantos pedaços que ninguém mais poderia dizer como tinha começado. E estando ele um dia no campo, com os pés afundados na terra para receber a primavera, um pássaro o confundiu com o campo e veio pousar em seu ombro. Ciscou de leve entre os fios, sacudiu as penas. Depois levantou a cabeça e começou a cantar.
Ao longe, o sabio, que a tudo olhava, sorriu.
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